Copa do Mundo
Estava esperando o final da Copa para postar aqui, mas hoje nosso sonho do hexa foi adiado. A vitória da França foi mais que merecida, jogaram muito melhor, tiveram mais acertos e Zidane e Henry brilharam com suas jogadas excelentes. Já a nossa seleção... onde foi parar o talento dos nossos Ronaldos, de Adriano, de Kaka?
A campanha da nossa seleção foi ruim desde o começo, os jogadores pareciam estar dormindo em campo, não acertavam o passe, não havia sintonia nenhuma entre os jogadores. Muito diferente da Copa de 2002, apesar de todas as reclamações contra o Felipão de que não havia uma boa defesa na seleção, os jogadores brilharam. Ronaldo brilhou e encantou a todos com seus dribles e gols.
Eu e meu marido estivemos lá, na final de 2002. Foi um dia memorável, a ser lembrando para o resto de nossas vidas e que renderá uma boa estória para ser contada a nossos netinhos!
Moramos numa cidade que sediou alguns jogos da Copa, entre eles o jogo da Inglaterra contra o Brasil. Foi a maior confusão aqui, a maioria dos brasileiros queria assistir a partida. Afinal, quando apareceria outra oportunidade dessas na vida? O problema foi que a partida se realizou durante a semana, no meio da tarde. Algumas empresas não quiseram liberar os brasileiros do serviço, chegando a fazer inclusive barricadas! Ameaçaram demiti-los se não continuássem a trabalhar. Mesmo quem passou mal (de verdade) não pôde sair da fábrica. Tiveram que aguardar até o final da partida! Um absurdo? Com certeza, mas os japoneses não têm esse mesmo espírito de Copa que está enraizado no nosso sangue. Aqui não se pára nenhum minuto para prestigiar sua seleção, que dirá parar meio dia como no Brasil.
A seleção brasileira chegou à final e foi concedida uma quota de venda de ingressos para brasileiros e alemães, era só apresentar o passaporte nos postos de venda em Tokyo.Foi mais uma corrida para conseguir os ingressos. Um amigo nosso disse que iria viajar de madrugada para ficar na fila. Nessa semana meu marido estava trabalhando no turno da noite. Lamentou não poder ir junto com esse amigo. Meu marido voltou do serviço, tomou banho, se enfiou na cama e rola de um lado, rola de outro e nada de pegar no sono. Os ingressos...
Ele se levantava, olhava na internet, deitava e rolava. Os ingressos...
Bom, vendo tamanha aflição, falei para ele que se ia ficar assim, era melhor ir de vez comprar esses ingressos. Ele pensou, ligou para o amigo que já estava lá. Os postos ainda iriam abrir somente daqui a algumas horas, já havia uma fila interminável lá mas ele iria guardar um lugar para meu marido.
Foi só o tempo do meu marido se vestir, pegar os passaportes e ir atrás de um caixa eletrônico para pegar dinheiro. Foi de trem bala, quase se perdeu em Tokyo para encontrar o local de vendas. Estava a maior confusão, passaram senhas falsas de madrugada e muitos estavam nervosos e partiram para o quebra quebra.
Meu marido fez amizade com alguns brasileiros no trem bala, não sei como mas eles conseguiram furar a fila e entraram dentro do posto de vendas, antes que as portas se fechassem por causa do quebra quebra. Antes ainda conseguiu contatar nosso amigo e conseguiu comprar um ingresso para ele também.
Voltou cansado mas feliz de ter conseguido comprar os ingressos. Estava tão feliz que nem se importou de não ter dormido nada e foi trabalhar assim mesmo, levando no bolso os ingressos para mostrar aos amigos.
Chegando o grande dia, fomos eu, meu marido e nosso amigo para o estádio de Yokohama. Pegamos um trem bala na cidade de Hamamatsu e enquanto aguardávamos na plataforma, vimos um homem alto e enorme se arrastando pelas escadas rolantes e andando com dificuldade até uns bancos ali na plataforma. Era o famoso lutador de sumô havaiano, Konishiki. O homem suava às bicas, pudera carregar todo o peso daquele corpo não devia ser fácil (cerca de 200kg). Nosso amigo correu para pegar um autógrafo e fomos atrás também, assim como alguns japoneses que estavam na plataforma. Ele deu autógrafos e posou para fotos. Mal olhava para nós, devia estar cansado dessa vida de celebridade. Não diria que é simpático mas também não nos afastou ou foi grosseiro. Enfim, chegou nosso trem e embarcamos.
No trajeto, nossas camisas amarelas chamaram atenção de alguns passageiros, que nos perguntavam se estávamos indo ver o jogo final. Muito simpáticos, desejavam boa sorte e que estariam torcendo pela nossa seleção.
A movimentação era grande já na estação de Yokohama, muitos torcedores procurando ingressos, cambistas, gente que usava fantasias grotescas ou engraçadas querendo aparecer. Muitos vendedores de camisetas, gente pintando a cara com as cores do seu país. Passamos pela revista e fomos procurar nossos lugares. O estádio já estava quase lotado, chegamos faltando umas duas horas para o início da partida. Os brasileiros que meu marido conheceu no trem bala já estavam lá, todos vestidos à caráter, perucas e bandeiras do Brasil. Havia alguns torcedores alemães nas cadeiras do fundo, mas a maioria vestia verde-amarelo ali, muitos japoneses e outros estrangeiros também.
Sentamos atrás do gol da Alemanha e o gramado se estendia enorme na nossa frente. Quando os jogadores entraram, foi uma emoção tremenda! Não dava para ver os rostos de ninguém, estava longe à beça, mas acompanhávamos tudo pelos telões.
Começando o jogo, já ninguém conseguia ficar sentado, todos em pé, para não perder nenhum lance.
Foi uma sucessão de vaias, aplausos, " Ihhhs" e " Ahhhs", a cada jogada.
Mas aquela noite era dos nossos astros, o trio matador dos R (Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho)e logo vieram os dois gols que consagraram nosso time pentacampeão. O Estádio parecia que ia vir à baixo de tanto que pulávamos e gritávamos. Foi uma festa! Vimos Cafu declarando seu amor à sua esposa, a chuva de origamis de tsurus (lamento não ter pegado nenhum para guardar de recordação) e da volta olímpica com Felipão à frente, erguendo seu punho como se dissesse " Estão vendo! Depois de tantas críticas, eu cheguei lá! Eu consegui!"
Saímos radiantes do estádio, gritando sem parar " É campeão!", "Brasil, pentacampeão!" ou cantando " Sou brasileiro, com muito orgulho!".
Fiquei rouca por uns bons dias, mas saí com a alma lavada e feliz por ser brasileira!
Tenho certeza de que tive uma oportunidade única na vida, de estar numa final de Copa e poder presenciar a vitória da nossa seleção. É uma emoção que não tem como descrever, só quem esteve lá sabe desse sentimento. Ainda hoje, lembrar disso tudo me faz arrepiar a pele. EU ESTIVE LÁ!
4 Comments:
Sabe que me arrepiei ao ler este post? Deve ter sido uma super experiência. Assisti ao jogo em casa em Londres.No final fomos até a praça de Trafalgar celebrar.MAs nada se equivale a ver o jogo ao vivo.Que bárbaro.
Que aventura! E que maratona para conseguir os ingressos! Puxa, sorte sua ter aproveitado a oportunidade. E que lamentável o resultado de ontem, você ainda acordou de madrugada para ver o jogo!
Valentina e Karen, ver a final da Copa foi um momento emocionante! Valeu muito a pena, apesar de todos os contratempos! Já o jogo de ontem.. que fiasco! Acho que ninguém ali da seleção brasileira estava muito empolgado em ganhar o hexa esse ano. Foi uma grande decepção para todos nós.
Ver uma final ao vivo e a cores deve ser realmente algo inesquecível. Eu estou triste pela derrota de ontem mas era previsível.
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